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Crítica//Je te Haime

         Nityama Macrini

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A euforia desenfreada dos encontros

Isabella de Andrade*

Candelaria Antelo e Arthur Bernard Bazin criaram um divertido espaço de movimento e múltiplas linguagens em Je te Haime com a companhia HuryCan. Dança, teatro e algo de circo se unem entre os corpos habilidosos dos coreógrafos e intérpretes. O solo, criado em 2013, reflete a forte conexão criativa e corporal entre os performers. Entre movimentos ágeis, complexos e intactos, uma história de amor, fuga e desencontros. O dueto narra de maneira cômica e nada delicada o desejo da pele e a desajeitada busca pelo encontro entre corpos.

A conexão cênica e a sintonia entre os performers impressionam e transformam movimentos complexos em brincadeira de criança aos olhares do público. Em ritmo de euforia, respiração acelerada e um quase desespero, o casal se busca e se repele simultaneamente. No início, a proximidade intensa nos impede até mesmo de observar os olhos de cada integrante. Logo, a romântica dança se transforma em luta e, o tom clownesco toma conta da coreografia. A movimentação é impecável e o público – entre adultos e crianças – acompanha com boas risadas.

 

A narrativa muda de tom e ritmo assim como a canção. A luta enroscada é substituída pela tentativa de fuga de Candelaria, que se percebe presa por centenas de braços e pernas do ex-amor. Se no início a coreografia me divertia e me levava ao riso, neste ponto, o sentimento é de agonia. A tentativa desenfreada de liberdade se contrapõe ao aprisionamento do corpo, que luta para desprender-se a todo custo. A força cênica e física de Candelaria, que ergue e sustenta seu companheiro de cena a todo tempo, me encantam.

 

A obra experimenta a comunicação intensa do corpo, o diálogo enroscado da pele e o desencontro tumultuado dos desejos. Em cena, os dois personagens alternam os papéis e, se por um lado buscam desesperadamente a presença do companheiro, por outro, o repelem com intensidade em diferentes momentos. A relação tem idas e vindas, fim e recomeço, e parece encerrar sua trajetória em uma atmosfera de dominação, dele por ela.

 

O espetáculo se destaca como o momento mais divertido do MID até então e mostra que a força criativa também pode ocupar seus espaços de maneira leve e divertida. É uma delícia observar a sintonia fina e a intensa preparação física de Arthur e Candelaria e eu poderia acompanhar a narrativa cênica proposta por muito mais tempo.


* Isabella de Andrade é jornalista, atriz e escritora. Graduada em Comunicação Social e Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, foi repórter de cultura por três anos no Correio Braziliense e arte-educadora no CCBB. Tem dois livros publicados e é idealizadora do projeto cultural www.ociclorama.com.

 

Je te haime
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