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30/4

Crítica//Nosotros

         Nityama Macrini

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O jogo coreográfico do cotidiano

 

Isabella de Andrade*

Quatro homens entram em cena para mostrar o cotidiano de bairros e ruas do México. No palco, a coreografia Nosotros abre espaço para a movimentação livre e cheia de senso de humor de Luis Vallejo, Edy Equivel, Betto Mendonza e Germnán Romero. Mais que uma coreografia, a obra se propõe a mostrar a experiência diária de um grupo de homens, colocando em prova as fragilidades e estereótipos do papel exercido pela masculinidade contemporânea.

A ausência de um fundo musical toma conta de quase toda a performance. Acompanhamos os movimentos embalados por assobios, gritos, apitos mexicanos e sons corporais. Demoro um pouco a me conectar com a coreografia e a entender os caminhos da proposta tão diferente. Os dançarinos se lançam em um grande jogo cheio de corridas, brincadeiras, jogos, lutas e máscaras, futebol, relações de disputa e amizade.  O grupo se propõe a questionar a fragilidade do papel do homem na sociedade e seus possíveis enfrentamentos.

Divididos em pequenas apresentações em solos, duplas e trios, os dançarinos imitam robôs, lutam e brincam como meninos. A performance arranca boas risadas da plateia, que parece embarcar na observação de um cotidiano um tanto frenético e quase atrapalhado. A técnica corporal aparece nos pequenos momentos coreográficos e na destreza dos meninos, que correm pelo Teatro Galpão do Espaço Cultural Renato Russo como quem ocupa as ruas de uma grande cidade.

A performance é longa e acompanhamos as idas e vindas do grupo durante, aproximadamente, uma hora de jogo cênico. Os ritmos se alternam e a formatação das luzes me faz experimentar o dia e a noite naquela possível cidade. O grupo parece construir relações de amizade e companheirismo ao longo da cena, mostrando uma divertida e despretensiosa relação na cena. Durante boa parte da obra, o movimento dos corpos é solto e cotidiano, modificando a atmosfera do espetáculo e criando no público a sensação de quem observa o vai e vem das ruas.

 

Depois de muitas brincadeiras, os performers se lançam em um momento mais intimista e linear da dança, abrindo espaço para a coreografia e para as relações desenhadas entre os corpos. Acompanhamos a força do sentimento coletivo de amizade e o companheirismo que demonstram surgir na vida e na cena. Para o novo momento da obra, surge o fundo musical e canção embala o ápice do espetáculo, quando nos emocionamos com a experiência mais sensível e humana entre aqueles homens.

Nosotros se propõe a desconstruir papeis sociais e emociona ao nos conduzir do frenesi das lutas ao intimismo das relações humanas. A coreografia começa de maneira um tanto atribulada, corrida, frenética e termina em um tom sensível, calmo e belo. Em cena, os mexicanos mostram que um grupo de homens, apesar dos estereótipos de gênero, podem mostrar conexão, fluidez e sensibilidade.
 


* Isabella de Andrade é jornalista, atriz e escritora. Graduada em Comunicação Social e Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, foi repórter de cultura por três anos no Correio Braziliense e arte-educadora no CCBB. Tem dois livros publicados e é idealizadora do projeto cultural www.ociclorama.com.

 

Nosotros
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