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Solos de Stuttgart Le Somnambule
Solos Stuttfart Blank Spots
Solos Stuttgart Blank Spots
Solos Stuttgart In Dieser Frau
Solos de Stuttgart Maa Layrinthe
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26/4

Crítica//Solos de Stuttgart

Nityama Macrini

 

 

 

A proximidade é um infinito possível

Cinco coreografias de alta performance ocuparam o palco do CCBB de casa cheia

Isabella de Andrade

Cinco bailarinos, diferentes em estilo e próximos em essência, ocuparam o palco do CCBB na noite de quinta-feira (25.04). Com solos fortes, ricos em movimento e narrativa, as coreografias impressionaram o público. O espetáculo contou com a presença de Kévin Coquelard (França), Tonia Laterza (Itália), Lukas Karvelis (Lituânia), Giulia Menti (Itália) e Souleymane Kone (Burkina Faso). A quebra dos estereótipos de gênero e uma constante luta contra diferentes opressões uniram os performers e se mostraram presentes, de maneira evidente ou sutil, em cada obra.

Humor clássico (Le Somnambule -  França)

A abertura do espetáculo foi protagonizada por Kévin. Com um solo tragicômico, o dançarino parecia mostrar uma constante angústia com a sua própria necessidade de movimentar-se no palco. Os olhos vidrados e os movimentos tensos criaram um interessante contraste com a música que pulsava humor. A narrativa de Kévin parecia correr com pressa, embalada por uma trilha sonora repleta de trechos conhecidos do grande público, remetendo a cenas de filmes ou aos mais famosos balés clássicos.

 

O performer executava pequenos movimentos de dança clássica com total displicência e, a seguir, retomava o tom humorístico e contemporâneo da dança. Em cena, o bailarino parecia sentir-se aprisionado aos movimentos e à constante música que pulsava forte, em alto e bom som. Apesar do tom cômico, o riso não aparecia e o que sobressaía em toda a cena era a angústia dançante criada pelo intérprete. Kévin parece ter criado o espaço ideal para aqueles que não aguentam mais os olhares constantes de uma plateia cotidiana, mas que permanecem em cena, e perpetuam o movimento viciado enquanto a música tocar.

Dança de força (Equal to Men -  Itália)

Fomos contemplados pela presença arrebatadora de Tonia Laterza. O solo extremamente forte e ágil da dançarina me remetia constantemente a um movimento animalesco de fuga. Tonia queria sair, arrebentar amarras, sentir-se livre. A música me transportava para um ambiente de selva e alternava a atmosfera do palco com um ambiente de fuga e luta. A intérprete pulsava nos olhos e no corpo rápido e bem delineado a vontade de arrebentar as cordas de qualquer forma de opressão.

A questão das amarras apareceu novamente, assim como na primeira dança, mostrando que a luta por liberdade, seja ela entre corpo, mente seja espírito, pode aparecer nas mais diversas formas de expressão. Tonia mostrou em cena uma força interna que se expandia por meio do corpo e preenchia todo o palco sem receios.

 

Dois corpos (Blank Spots - Lituânia)

As apresentações continuaram com a chegada de Lukas Karvelis, mostrando um estilo totalmente distinto da coreografia anterior. Quebrando estereótipos de gênero, o performer iniciou a coreografia com o rosto coberto por cabelos, uma roupa justa e sapatos de salto alto. No início, pensei que a performance se daria pela presença de outra mulher.

 

Lukas entrou em cena com uma movimentação corporal que parecia misturar vogue e dança contemporânea. Os movimentos curtos, rápidos e estanques combinaram com a trilha sonora, também criada para aumentar o clima de estranhamento em uma atmosfera que me remetia ao som de casas noturnas.

O dançarino se descontruiu para a segunda metade do solo. Desnudando o corpo do figurino e da coreografia mais performática mostrada até então. Uma movimentação mais fluida, solta cheia de linhas tortas tomou conta da performance. Lukas pareceu desnudar-se da composição que lhe transformava em personagem para se mostrar verdadeiramente no palco.

Liberdade feminina (In Dieser Frau -  Itália)

O ritmo gostoso de música brasileira, lembrando o samba suave e a bossa-nova, tomaram conta do palco para embalar a composição coreográfica de Giulia Menti. Como na apresentação anterior, a performer se descontruiu e se reconstruiu ao longo da coreografia. No início, um corpo com figurino simples e um rosto coberto por tecido pareciam anular a identidade da intérprete.

 

A suave canção brasileira contrastava com máscara agressiva da dançarina, que fazia lembrar o cotidiano acostumado à violência em convivência com a suposta beleza do que guardamos de melhor: a criação.

 

Giulia desnudou os seios para a segunda metade de seu solo, mostrando um corpo feminino livre e cheio de possibilidades. Novamente, um corpo forte e ágil, marcando a característica de presença marcante das duas grandes mulheres que se apresentaram durante a noite. Novamente, uma narrativa que parecia libertar-se de todas as amarras, conectando sua performance com as apresentações anteriores em uma teia de possibilidades.

Clímax do MID (Maa Layrinthe - Burkina Faso)

Souleymane Kone encerrou a noite com uma performance crítica, contemporânea e ancestral. O equilíbrio nos movimentos de solo despertava atenção constante do público e a coreografia cheia de ritmo evidenciava a proximidade do bailarino com o estilo proposto. O intérprete parecia criar a sua própria expressão coreográfica, entre desenhos no solo, movimentos ancestrais, pontos de equilíbrio e dança contemporânea.

 

Com um corpo carismático e olhos firmes, Souleymane finalizou os Solos de Stuttgart, marcando a noite de quinta-feira como um dos momentos mais fortes e expressivos do MID até então.

Isabella de Andrade é jornalista, atriz e escritora. Graduada em Comunicação Social e Artes Cênicas pela Universidade de Brasília, foi repórter de cultura por três anos no Correio Braziliense e arte-educadora no CCBB. Tem dois livros publicados e é idealizadora do projeto cultural www.ociclorama.com.

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