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MID recebe estudantes muito especiais
Nityama Macrini
Projeto pedagógico desenvolvido pelo Movimento Internacional de Dança leva alunos da rede pública ao Teatro Plínio Marcos da Funarte
Alethea Muniz e Gláucia Chaves
Mais de 400 alunos da rede pública do Distrito Federal assistiram ao espetáculo Jardín de Invierno, na tarde desta terça-feira (23), no Teatro Plínio Marcos da Funarte. No meio deles, a estudante Camila Vitória, ao microfone, declarou com voz embargada: “Estou muito emocionada porque essa peça de vocês fala da minha vida”. Do outro lado do espaço, o pequeno Ugo, da Escola Classe 10, de Taguatinga, foi enfático: “Essa dança foi incrível”.
O microfone deu voz aos estudantes com deficiência intelectual (DI) para que perguntassem o que quisessem ao coreógrafo espanhol Igor Calonge e aos quatro bailarinos brasilienses que estiveram em cena. A montagem é uma coprodução Brasil-Espanha, resultado da residência artística realizada no ano passado durante o festival.
Sem medir palavras, a estudante Laís, 17 anos, foi direta: “O que essa peça quer transmitir?”
A resposta veio do diretor-coreógrafo, que explicou a ausência de narrativa lógica e falou da expressão, por meio dos movimentos, de temas como resistência, força e obstinação. Igor Calonge também relatou, em portunhol, que movimento e cenografia estão bastante conectados em seus trabalhos.
“Nesse público a gente entende bem o que é a liberdade do espectador porque eles são muito autênticos na relação que estabelecem com o trabalho”, afirmou o coordenador da atividade pedagógica do MID, Glauber Coradesqui.
Com 60 minutos de duração, a peça apresenta um cenário poético e desolador, que atrai ao mesmo tempo que assusta. Esse cenário, em parceria com a música e a iluminação, convida o público a um estado íntimo e pessoal de contemplação e percepção de nós mesmos. “É como se fosse uma meditação”, externaliza a jovem Laís, ao ser questionada sobre como a obra a impactou.
“O espetáculo deste ano é exigente em termos de composição. Enfrentamos novos desafios, mas a sensação é de dever cumprido”, avaliou Coradesqui. A apresentação fecha o ciclo de atividades pedagógicas iniciado em 13 de março com 60 professores da rede pública. A proposta é ir muito além do entretenimento para os estudantes, trabalhando a percepção e temas relativos ao espetáculo na escola, em atividades pedagógicas.
A professora Márcia Santos, do Centro de Ensino Fundamental 19 (CEF-19), de Taguatinga, participa da atividade pelo terceiro ano. “É tudo feito com muito cuidado. Participamos de oficinas e, depois, repassamos esse conteúdo para cada um. Eles chegam ao teatro preparados. Posso garantir que é transformador.”
O MID segue com apresentações de dança até 5 de maio. Ao todo, são mais de 50 apresentações em teatros de Brasília, Taguatinga, Gama e Ceilândia.
